terça-feira, 29 de junho de 2010

Eterna Alanis



(traduzindo...)
"Bem, a vida tem uma engraçada maneira
De te atrapalhar quando você pensa que está tudo bem e
tudo está dando certo
E a vida tem uma engraçada maneira
De te ajudar quando você pensa que tudo deu errado e
tudo explode na sua cara
(...)
A vida tem uma engraçada maneira de te atrapalhar
A vida tem uma engraçada, engraçada maneira
De te ajudar, de te ajudar"
(Alanis Morissette - Ironic)

Sobre a natureza dos rios

Experimente boiar na corrente da vida, sem medo ou hesitação.
Então, hoje o lago me pareceu um rio e me lembrou as águas daquele dia. Estavam furiosas ou, antes, no seu ritmo normal, o ritmo natural da vida que não é uma vida amortecida, morta a cada dia.
Então, entrando naquelas águas eu senti aquele vigor, aquela quase fúria, aquele ritmo, aquela vida. E não me arrependi. Nem mesmo quando me machuquei - eu me machuquei por ir contra tudo isso.
Se deixar levar é, às vezes, o que deve ser feito. Não lutar, não resistir, não tentar controlar, não se iludir. Nesse rio, podemos, certas vezes, ter autonomia e agir, ajudar a corrente que se forma e que empurrará o barco, certamente. Nosso movimento é pouco perto daquela força, mas ele pode ajudar o barco a sair mais rápido daquele ponto morto do rio.
Entretanto, nos momentos em que mais aprendi, eu estava inútil diante do rio e de seu poderio sobre mim, sobre todos. Quem tentava acelerar, se cansava, quem ficava parado, prosperava. Pois na observação dos pequenos movimentos que formam um grande, estávamos todos lá dependentes, sem ação. E observar aqueles mínimos movimentos era tudo, naquele momento.
Penso em quão inúteis somos diante da vida, nesses momentos em que deveríamos saber esperar o movimento grande que se forma. Nós poderíamos ajudá-lo permanecendo calados e centrados, somente prestando atenção. Mas, muitas vezes, nos desesperamos, nos perdemos em ansiedades e, com isso, viramos o barco. Podemos nos machucar seriamente, pois o rio nunca pára. As águas continuam vindo, mesmo estando vc preso entre pedras e se ralando todo. O melhor é estar no barco e esperar o movimento do rio.

sábado, 26 de junho de 2010

Reflexão a respeito das horas (e sobre nós, os sabedores das horas)

O que é para uma pessoa não saber ler as horas? A moça sabe, essa que me perguntou as horas porque não sabia vê-las no relógio.
Para estar em sua pele, só podemos imaginar, relembrando a infância, época em que os relógios não nos diziam absolutamente nada. Época em que estar no tempo era acompanhar as pessoas e suas vidas, suas entradas, suas saídas. Época em que, tal como um cão, inconscientes, não sabíamos da vida pelas horas marcadas num objeto estanho, mas pelos momentos e suas especificidades: o momento de acordar era o corpo satisfeito do sono, o momento de comer era a fome, o momento do carinho e da diversão era aquele em que estávamos todos juntos e o momento do descanso viria logo em seguida, assim que fosse necessário.
Também na infância éramos inconscientes dessa manipulação que certos números exercem sobre os homens e as mulheres, os números do relógio manipulam suas ações, bem como os valores monetários, suas idéias.
Para uma criança (que cria e recria o que quiser em sua pequena mente) não saber ler as horas é irrelevante. Mas para uma pessoa como ela?! Aquele moça trabalha, e trabalha duramente. Para ela, ler as horas deveria ser importante. Isso evitaria o esforço adicional não remunerado, o desgaste físico e mental além do necessário, a perda de algumas poucas horas junto dos seus. Para ela, assim como para muitos, tempo é vida e desperdiçá-lo não é coerente. Mas nós temos um instrumento para mensurá-lo e ela não.
Para ela, somente a percepção subjetiva do tempo que passa nas nuvens, nas pessoas, nos carros, na paisagem. No sol que se movimenta no céu sem que percebamos, mas que, para ela é como um rito de passagem, a construção de mais um dia. Para ela, perceber esses breves movimentos que não nos reparam, a nós, os sabedores das horas, é tudo e o que realmente vale.
Sua percepção subjetiva precisará, a qualquer momento, de uma confirmação, como foi feita comigo, com uma simples e qualquer passante. O que para mim é tão natural, um movimento apreendido e feito sem pensar, o movimento de ler as horas, para ela é o momento aguardado, a confirmação do poder ir embora. Essa permissão é pressentida a partir do movimento do dia, por isso é muito mais natural para ela do que para qualquer um de nós.
Nós nos apertamos e nos apartamos uns aos outros num trabalho tedioso sem saber sequer a cor do sol. Entramos cedo e saímos tarde, sem notar que no intermeio das duas escuridões existe alguma luminosidade. Grande evolução a nossa que nos livra de olhar em direção àquilo que nos acalma, qualquer que seja a situação, e que nos enche de paciência a fim de aceitar um pouco mais daquilo que corpos e mentes já não podem mais. O nosso olhar ao relógio tudo cala e suporta.
Não podemos raciocinar - nossa sociedade - sem o tempo realizado pelos relógios. Mesmo ela, a moça, tem de se submeter a esse imperativo, mas sua atitude de desprezo perante o relógio que estava logo à frente e acima dela não me sai da mente. Ela o desprezava, como se não precisasse dele, e achava graça, risonha no fato de não precisar ler as horas já que eu (assim como qualquer um) poderia fazer isso por ela.
Minha aparente superioridade desmoronou perante sua graça.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Coração Selvagem (não, não é a obra da Clarice)

Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja no seu copo
No seu colo e nesse bar
Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo
Tenho pressa de viver
Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro, ver e saber que eu te amo
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver
Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: "Vida, pisa devagar
Meu coração cuidado é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"
Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo
Vem morrer comigo, meu bem, meu bem, meu bem
Talvez eu morra jovem:
Alguma curva no caminho, algum punhal de amor traído
Completará o meu destino, meu bem... Que outros cantores chamam baby.
(essa música do Belchior é demais!)

De quantos anônimos

De quantos anônimos mestres se faz um gênio?
Quantos Teixeira de Pascoaes são necessários para se formar um Fernando Pessoa?
Curiosidade...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Profundo
cão
Amor
são?
O que acontece
o que jamais se esquece
Um acontecimento
um momento
Um monte no chão
não
Acordado
até altas horas
Excitado
com os bofes para fora
E tudo passa
e tudo passa
Não demora
(não vejo a hora)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Como pode?!

Semana passada, voltando do trabalho, fui literalmente SALVA por Rilke. Já tinha ouvido falar dele, mas não de sua profundidade:

"ainda lhe restam as noites que passam pelas árvores e sobre muitas terras" (Rainer Maria Rilke)

Dentre tantas pertinentes observações que ele fez sobre o trabalho, o emprego enfadonho e o abandono diante da vida, ele me lembrou, simplesmente, do que em mim eu havia esquecido: sim, o vento que movimenta um simples galho de uma árvore, por um instante, pode ser meu. Ou melhor, pode comungar comigo algo que não sei explicar.
Tal sensação acalantadora não é unicamente descrita por esse poeta. Outros já o disseram:

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." (Fernando Pessoa)

E é com a sensação de que preciso, ainda, muito e urgentemente, aprender a amar o vento tal como eles dizem que inicio esse blog e termino aqui essa postagem.